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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Personagem.



Parece que sou um disco riscado, sempre a pisar a mesma faixa, a tocar no mesmo acorde, a falhar o mesmo tom, não mudo de discurso. Quem pára e ouve, cansa-se, tal como tu te cansas-te de me ouvir. É preciso bem mais que paciência, mais que vontade ou até carinho para suportar a minha repetição.
Já não sei quem sou e a verdade é essa, ao longo de tanto tempo que continuo no meio do pleno explendor a representar uma personagem que já não sou, a falar verdadeiras mentiras como se fossem as minhas maiores e mais reais verdades que até mesmo eu acabo por crer no que digo. Assustador é o termo que melhor consigo encontrar para definir este meu estado de espirito, sinto-me virada de pernas para o ar, enxovalhada pelos risos das vozes que ouço a censurarem e julgarem as minhas atitudes, represento tão bem a personagem que sempre quiseram que fosse que agora já não sei quem realmente sou, não me encontro no meio de tantas outras personagens, confundi-me na personalidade que me criaram e esqueci a que eu própria criei. A postriória continuo agarrada aos bocados que deixei de mim por cada uma.
Diferentes palcos, diferentes públicos, diferentes personagens, mas sempre a mesma actriz e sempre a mesma história, que decorei e ensaiei, tantas e outras vezes que acabei por vivê-la com mais intensidade que até a minha própria realidade. Está tudo confuso, tenho o passado no presente que vivo, o futuro colou-se no passado e eu parei no tempo quando percebi que no meio de tantas personagens perdi e dei tudo de mim. Cada caracteristica, qualidade, minha, ficou em cada uma das personagens que interpertei por ti, por eles. Por tanta gente. Dei parte de mim, o meu orgulho e determinação, a minha vulnerabilidade e coragem, a minha sinceridade, e agora? Agora, não passo de uma folha de guião em branco, á espera que me voltem a escrever e descrever, á espera que me nomeiem para mais um espectáculo de entretinimento alheio em que eu dou tudo de mim e no fim... no fim não me resta nada para contar!
Agora estou só vazia.

1 comentário:

  1. são fazes meu bem! o estado de espírito de uma adolescente alterasse com mais facilidade que encontrar areia no deserto, hoje estás bem, sentes-te realizada, tens tudo o que queres e estás rodeada de amigos, amanhã erras num pequeno aspecto e falta-te tudo, não tens nada e estás sozinha até que se esqueça e voltes a recuperar tudo o que tinhas ontem.. agora sentes-te vazia, não compreendes o porquê das coisas e as perguntas começam a muitas ou se calhar, a vontade de procurar respostas começa a ser pouca. mas são fazes, enrola e desenrola, amanhã é outro dia e o hoje passa a ser passado, e o passado que tanto de atormenta e tão vivo está em ti, passa a ser cada vez mais longínquo e inocentemente vais esquecendo essa dor.

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